
A Romaria das Romarias
A Romaria d’Agonia é considerada o cenário ideal para a divulgação e promoção do Traje à Vianesa. Este condensa em si toda uma beleza e força, assim como harmonia e a variedade do Alto Minho. Nele as cores expressam vários aspetos minhotos, o azul do mar e do céu, o verde dos campos e o vermelho dos lábios das raparigas. Ao longo dos dias da festa, este traje participa em variados momentos importantes, nomeadamente no desfile da Mordomia, onde centenas de mordomas saem à rua para mostrar a beleza destes trajes, no Cortejo Histórico e Etnográfico, onde para além das mordomas, também os outros trajes e grupos folclóricos da cidade se mostram, e também na Festa do Traje, na qual é clarificada a história do traje e sua evolução.
Da Romaria não nos podemos esquecer da alegria contagiante dos bombos e o ritmo dos cabeçudos e gigantones, que nos acordam todas as manhãs com magníficas alvoradas. As bandas e grupos folclóricos que animam as noites das festas em vários desfiles e atuações. Ainda é de referir a devoção das mulheres e homens da Ribeira de Viana do Castelo, que é derramada nas águas do Lima, onde passa a Procissão ao Mar, momento cheio de magia e beleza. Sem esquecer os tapetes de sal, onde é demonstrada com toda a alma, a devoção pela padroeira dos pescadores, a Senhora d’Agonia.
E por fim, o momento pelo qual todos anseiam, quando no último dia chega a meia-noite para se ouvir os últimos foguetes da festa e ver a cachoeira que solta a eterna frase – “Viana é Amor”!

O Feriado Municipal
É de conhecimento popular que o feriado municipal de Viana do Castelo é o dia 20 de agosto, mas , certamente muitos ignoram o motivo da escolha deste dia. Entre o povo diz-se que a escolha deveu-se principalmente por ser o dia 20 de agosto, o dia que os pescadores dedicavam à festa da Senhora d’Agonia.
Do lado da documentação, remontando ao tempo do Rei D. José, datada de 15 de julho de 1772, a provisão dizia o seguinte “em resposta ao pedido dos moradores da Villa de Vianna se fizesse huma Feira geral de três dias Franca no dito Campo do Castello”, o rei respondeu “Hey por bem que os Suplicantes possão fazer a Feira de que se trata no Campo do Castello da Villa de Vianna nos dias referidos da festividade da Nossa Snrª da Agonia da mesma Villa”. Também D. Maria, em maio de 1777, fez referência aos três dias de feira numa provisão, “… de poderem obrigar aos negociantes da mesma Villa a hirem com as suas lojas fazer feira no campo d’Agonia, nos três dias do mês de Agosto de cada hum anno...”.
Conclui-se apenas que os dias 18, 19 e 20 de agosto foram consagrados à Feira Anual e à Festa da Senhora d’Agonia, a parte de 15 de julho de 1772, e o dia 20 de agosto, o feriado municipal, aparece como remate do ciclo festivo.
Cortejo Histórico e Etnográfico

O primeiro cortejo etnográfico teve o seu primórdio no ano de 1908, toda a estética ainda é mantida atualmente. O começo dá-se com a lançada de alguns foguetes - algo como uma ‘’chamada’’ - sendo aberto a todas as freguesias, com a distribuição de quadros referentes às mesmas, que são o cartão de visita para quem vê se interessar por uma visita.
Estima-se que em média existam mais de 3000 figurantes, num desfile de mais de 2 horas de duração e com um percurso de cerca de 2 metros e 30 centímetros. As pessoas aglomeram-se sentadas no chão, em bancos próprios para se envolverem no desfile, disputando o vinho oferecido durante o cortejo, e pedindo beijinhos aos noivos que participam, bem como os casais que podemos observar. É notória a importância do desfile, mantendo a um nível centenário um quadro sobre os descobrimentos.
Inicialmente os carros alegóricos eram puxados por juntas de bois, mas mais tarde - na década de 60 - deu-se uso aos tratores para essa mesma função. O grande climax do mesmo é quando a minhota que é a cara do cartaz desfila por entre a multidão, a multidão envolve-se na alegria, no riso constante, no olhar intimo e entoa-se o ‘’Havemos de ir a Viana’’, como uma promessa de aqui voltar.
Iconografia do Traje à Vianesa

O Traje à Vianesa é o traje que as raparigas das aldeias dos arredores de Viana vestiam entre meados do século XIX e primeiras décadas do século XX. Este traje ganhou características que o distinguem de forma evidente de todos os outros trajes populares. Mesmo existindo pessoas que não sabem distinguir os trajes de uma freguesia da outra, ou de uma função da outra, rapidamente conseguem perceber um conjunto de características que distinguem esta forma de vestir como sendo de Viana.
Reconhecer o Traje à Vianesa tem muito a ver com a beleza e o colorido, segundo Benjamim Pereira “no quadro geral do traje popular português, o traje da região de Viana do Castelo sobressai de um modo decisivo e inconfundível pela sua originalidade e beleza, pela diversidade de formas, pela afirmação de uma estética que soube conjugar elementos simples, elaborando-os e harmonizando-os entre si com fina sensibilidade, em vista à valorização do corpo feminino, segundo um cânon que exalta um certo esplendor físico” (2009).
Graças às características ricas e coloridas, o traje tornou-se um objeto transmissor de afetos com um poder evocativo e com forte simbolismo. O reconhecimento e divulgação do traje foi grande, assumindo-se este como um dos símbolos da Nação, com uma importância semelhante à do hino nacional ou bandeira. A imagem do traje tornou-se conhecida através da divulgação de postais ou produtos industriais por todo o país. Em Viana as Festas d’Agonia foram o grande veículo de divulgação, uma vez que procurava manter viva a ligação do traje entre o uso simbólico e o original.
Cláudio Basto afirmava que o traje estava em constante evolução e isso é normal e inevitável ao longo do tempo, o gosto vai-se aperfeiçoando assim como a arte de tecer e bordar. Podemos assim afirmar que o traje que hoje em dia conhecemos não foi “inventado”, mas é sim resultado de um processo evolutivo.
Viana de porta aberta
É por esta altura que Viana do Castelo se transforma numa cidade diferente daquela que é durante o ano. É a altura em que o povo de todos os recantos de Portugal se desloca até nós para apreciar a beleza desta adorável cidade – as veigas ruidosas, os seus campos, as suas montanhas e as suas serras extensas, assim como os seus rios murmurantes e as paisagens incomparáveis.
As festas d’Agonia são o ponto mais alto do ano para todos, mas especialmente para o povo minhoto, vemos o Lima a beijar a imagem de Nossa Senhora d’Agonia, o chão a vibrar ao som dos bombos e foguetes e toda a cidade coberta de cor e alegria das mordomas.

...
De todo o lado vêm gentes cheias de alegria, que trazem as suas famílias com vontade de envergar os seus trajes domingueiros e característicos – jaqueta curta, calças justas à perna, faixa de cor, chapéu de há uns anos, a camisa farta e sapatos bicudos, no caso dos homens. Relativamente às mulheres, as suas saias destacam-se devido aos tons bem garridos, aventais caprichosos com a palavra amor, colete com veludo e missangas, camisas de linho bem bordadas, na cabeça o lenço de franjas largas, deixando à vista os brincos, cordões e peças de ouro de família.

‘’Da música e da dança, como forma de expressão espontâneas populares, aos ranchos folclóricos’’
Jorge Dias - 1970

Devemos situar-nos no ano de 1920, onde a região do Minho era essencialmente preenchida pelo setor primário, mas isso não impedia que não se sentisse que esta região era uma festa constante. Sendo que o Minho é conhecido pela alegria que transborda, e as personalidades cativantes, era típico encontrarmos aos domingos ou nos arraias as pessoas a dançarem e a divertir-se nos terreiros.
Nos trabalhos que eram feitos, o canto era uma forma de ir apaziguando o trabalho dura, por vezes acontecia cantos apenas para o sexo feminino, que retratava várias funções: espadelada, estopadas, esfolhadas. Era comum também encontrar-se por vezes num final de trabalho alguém a cantar, pelos quais os vizinhos se juntavam e assim se criava um grande arraial.
Tornou-se comum então a romagem a grandes romarias, como a Senhora da Agonia em Viana do Castelo, onde o trajeto podia ser doloroso mas recompensador, tratavam de vestir as suas melhores roupas - que variavam conforme a região -, e não se poderiam esquecer quer do merendeira e do vinho.
Tapetes

“Discutem-se cores, materiais, desenhos, temas e todos os pormenores”. Quando chega a Festa da Cidade é notável a grande azáfama nas ruas da Ribeira de Viana do Castelo. Durante toda a noite, de 19 para 20 de agosto, os pescadores e mulheres da Ribeira, decoram todo o espaço para receber a Procissão ao Mar. Em cada rua há uma pessoa que assume a liderança, já nos armazéns há dedicação de centenas de mãos.
Para além das ruas, também as casas dos moradores da Ribeira são enfeitadas com colchas e redes, assim como outros adereços do mar e pesca. As ruas começaram a ser decoradas com flores e serrim, no entanto o vento impedia que estes materiais se mantivessem, foi então necessário o uso de um material mais pesado, como o sal.
São arregaçadas as mangas e vestidas as camisolas de cada rua, não há cansaço que os pare. “Apesar de vizinhos e de muita entreajuda, há sempre despique…”. Todos trabalham para fazer da sua rua a mais bonita da Ribeira naquela noite e dia. De um ano para o outro já se esboçam os desenhos relativamente ao tema a ser usado. Hoje em dia, milhares de pessoas vivem a Noite dos Tapetes, incluindo as concertinas que já são parte importante da mesma noite, pois animam todos os moradores.
Na manhã do dia 20 de agosto, milhares de curiosos visitam as ruas da Ribeira e admiram “…os tapetes de sal mais bonitos do mundo”.
