
Neste separador pretendemos dar a conhecer os vários etnografos que de certo modo contribuiram para a riqueza da etnografia a nível nacional. Claro que daremos mais relevo aos que contribuiram para a larga riqueza da etnografia de Viana do Castelo, mas parece-nos importante entender como tudo se construiu e a evolução que se deu.
Jorge Dias
''Da música e da dança, como forma de expressão espontâneas populares,
aos ranchos folclóricos''
No artigo de Jorge Dias, este descreve todo o percurso que teve acesso e como se conseguiu alterar factos que acreditava até então serem tão especiais e bonitos que não haveria forma de os alterar.
O autor conta que ao longo das suas viagens, viu que o povo conforme a região ia diversificando a sua cultura. Por exemplo, no Minho reinava a alegria e o trabalho, ou seja, a região embora não fosse muito abastada em termos de alimentação e a maior parte da população de classe baixa, estes não davam importância a quem tinha mais, sentido-se feliz pelo o que tinham.
Era fácil ver o povo feliz, estes ficavam satisfeitos com um pouco de música, um acordeão ou uma viola - por exemplo -, e com pouco começava uma dança ou umas cantigas. Havia cantigas para todos os gostos mas algumas designadas para certas funções, algumas situações em que um certo trabalho era apenas constituído por mulheres, estas tinham as próprias cantigas em que apenas o sexo feminino tinha voz, um dos exemplos poderá ser a espadelada.

O modo como se trajava dependia de certas ocasiões, caso fosse um domingo existia um traje de domingar, um de trabalho, mas todos eles de cores fortes, onde se faziam notar as mulheres. Quanto aos homens, trajavam com uma camisa de linho, um colete em que as costas por vezes eram de cor diferente, essencialmente vermelho, uma faixa para segurarem as calças, um chapéu de aba larga e o seu casaco. As várias festividades podiam também ser feitas conforme a região, sendo que muitas vezes as pessoas iriam a outras terras para assistir a certas romarias, algumas delas bem famosas, tal como a mais antiga romaria do país a Romaria da Senhora de Agonia, que desde cedo conseguiu ter adeptos por todo o Minho e deste modo as pessoas iam a Viana do Castelo não só por devoção, mas também por divertimento, para verem o seu cantar e o seu dançar, e passar um tempo diferente do habitual, iam até ao local ou a pé, em que as mulheres levavam os seus alimentos numa cesta e os homens o vinho, ou em garrafões ou mesmo nos chifres, mas também poderiam ir com os seus animais, um burro, por exemplo, levaria um casal até ao local destinado.
No Minho de sorriso fácil, por vezes os senhores das grandes casas que albergavam muitos trabalhadores, pediam a estes que fossem tocar e cantar para as suas casas em troca de vinho sem qualquer entrave durante todo o serão, era fácil as pessoas juntarem-se, bastava numa casa ouvir um som ou uma cantiga que todos os vizinhos iriam ter ao local e levavam alguns condimentos.
No Minho o Vira, como no Algarve o corridinho, as várias regiões tinham as suas próprias modas e formas de viver, vários tipos de cultura conforme o local e as características, mas com a revolução industrial, começou-se a diversidade cultural a ficar cada vez mais pequena. Começaram a existir fitas com gravações em que os mais abastados utilizavam em troca dos tocadores, ou mesmo em festas em que assumia papel de destaque, foram aos poucos esquecendo o que até então era a diversão na sua forma mais pura. Mais tarde através das rádios e da Rádio e Televisão Portuguesa, agora conhecida como RTP, existia um programa destinado apenas ao folclore, mas como todo a gente do país via, começou as culturas a sofrerem alterações. Por esse mesmo fator, começaram a existir os grupos folclóricos, uma vez que grupos de pessoas mais idosas assumiam que a sua cultura não era como se retratava e queria demonstrar a mesma na sua forma mais pura. Por essa mesma razão começou a ensinar-se os mais novos os usos e costumes de um povo.
Na atualidade há imensos grupos folclóricos, mas o autor também assume que há grupos em que não se torna tão fiel assim a sua prestação, para que nunca se fugisse ao suposto, muitos homens decidiram preencher o cancioneiro, onde contam os trajes, as danças, as tradições que durante anos se fizeram.
Os grupos devem então fazer uma pesquisa exaustiva para saberem que representam o melhor possível o que já foi vivido em tempos pelos nossos antepassados, sem nunca perder o amor, a dedicação ao amor que surge pelo folclore.

Pedro Homem de Mello
Todos nós conhecemos a música ''Havemos de ir a Viana'', ou mesmo ''A minha terra é Viana'', pela voz glorificadora de Amália Rodrigues, mas por detrás desta está um nome muito importante e de quem toda a gente tem uma grande admiração: Pedro Homem de Mello. Foi ele quem fez nascer esta letra, e nela tem submersa sempre a mensagem de amor que tinha à cidade. Mais do que um homem, há uma grande história por conhecer.
Pedro da Cunha Pimentel Homem de Mello viveu entre 6 de setembro de 1904 e 5 de Março de 1984. Tanto o nascimento como o seu falecimento ocorreram no Porto. Era filho de uma família bastante abastada, contribuindo para todas as suas pesquisas.
Estudou na Faculdade de Coimbra, mas terminou o seu curso de Direito na Faculdade de Lisboa. Conseguiu ser professor, chegando a ser diretor da Escola Comercial Mouzinho da Silveira, subdelegado do procurador da república e advogado, colaborou para várias revistas e jornais, chegando mesmo a apresentar todos os fins-de-semana um programa de divulgação do Folclore na RTP.
A divulgação do Folclore foi feita pelos seus depoimentos mas também através dos seus poemas que mais tarde tiveram a voz de Amália Rodrigues como por exemplo ‘’Havemos de ir a Viana’’ e a ‘’Minha terra é Viana’’.
Passou vários anos em Afife – Viana do Castelo, vivendo no convento das Cabanas, essa ligação criada foi determinante para a sua decisão de ser sepultado no cemitério dessa mesma freguesia.
António Ferro
António Ferro foi um conhecido mediador da cultura portuguesa, tendo tido uma carreira bastante vasta, exercendo funções como escritor, jornalista e político português. Ficou de forma notória vincado, o seu interesse pela cultura, quando exerceu um cargo de importância no SNP, mas tarde SNI, até 1949.
Inicialmente, António Ferro começou a esboçar o seu gosto pela cultura mostrando interesse por todo o mundo das artes, ao ponto de ter sido convidado para ser diretor de Orpheu, por Mário Sá Carneiro, quando tinha apenas 19 anos.
O jornalista sempre teve uma paixão por tudo o que era arte, cultura, tendo ido várias vezes a Paris - que já era conhecida como a capital da moda -, altura em que Paul Poiret e os Ballets Russes conquistavam todo o mundo. Encantado com todo o trabalho dessas entidades, António Ferro afirma ‘’Ser um grande costureiro como Poiret, é ser poeta, é ser estatuário, é ser pintor’’, o que revela desde logo uma sensibilidade para a arte. Mas em relação aos Ballets Russes era a ligação entre a modernidade e a tradição que tanto o agradava. O beleza do espectáculo que zoava na sua mente foi capaz de o fazer sonhar por país culturalmente grandioso.
Foi numa viagem a Hollywood nos anos 20 que António Ferro descortina ideias sobre a emancipação da cultura portuguesa, gerando a publicação de um livro ‘’ Hollywood capital das imagens’’ e publica também um artigo para o Diário de Notícias - que ainda hoje é alvo de estudo -, intitulado de ‘’Política de Espirito’’, propondo novas formas de ação cultural. Salazar, que geria o pais, passando pouco tempo depois da publicação, convida-o a ocupar a direção de um organismo que tinha acabado de criar, a Sociedade de Propaganda Nacional (SNP), convite desde logo aceite. Com este cargo, António Ferro mostra-se então capaz de organizar um evento seguindo a anatomia dos Ballets Russes, fazendo desde logo a ressalva ‘’nas nossas danças populares, nos nossos trajes regionais, nos nossos costumes, temos mataria prima para utilizações admiráveis, temos tintas de sobra para um grande cartaz a pôr na Europa, a pôr no Mundo’’ -, foi deste modo que surgiu o Verde Gaio, uma das poucas companhias existentes no mundo. Na pesquisa para o Verde Gaio, foi feita uma pesquisa pela Mocidade Portuguesa Feminina, onde conseguiram angariar vários trajes tradicionais portugueses, que pela dimensão se passou a intitular como o Guarda Roupa Verde Gaio.
Esses mesmos trajes, estavam em exposição ao lado de trajes mais atuais de bailado, no Museu de Arte Popular (também criado por António Ferro) com cerca de quinze mil peças em exposição. Contudo, após a Revolução de 74, a coleção ficou albergada com o empréstimo a varias instituições.
Em 1944, já com o nome de SNI, foi organizada uma exposição de trajes tradicionais para rumar à Grande Feira de Amostras de Sevilha, em 1945, foi exibido no estúdio do SNI uma mostra de trajes regionais de Viana do Castelo.
É de notar a sua paixão por Viana do Castelo, quando a sua esposa num pequeno texto demonstra que até nos seus convívios mais oficiais tentam mostrar a etnografia do país, tendo pessoas trajadas com o traje típico da cidade, como marco nacional.

